sábado, 19 de janeiro de 2013

totus tuus MARIA


1. A ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
" Pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma dignamente revelado, que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminando o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".
(Constituição apostólica "Munificentissimus Deus" (M.D DE Pio XII - primeiro de Novembro de 1950).
Entende-se por Assunção a glorificação corporal antecipada da Santíssima Virgem, em razão dos méritos do seu Filho Jesus Cristo. Assim, enquanto dizemos
que Jesus Ascendeu aos céus, sobre Maria é certo que esta foi assunta ao Céu, de Corpo e Alma, porque Jesus subiu aos céus por virtude própria, enquanto Maria foi assunta aos céus, pelas virtudes e méritos de Jesus. Ela foi assim, levada, não tendo subido por si.
Diz-se glorificação antecipada porque a glorificação corporal das criaturas é prevista apenas para o fim dos tempos, enquanto que com Maria ela aconteceu antecipadamente.
Se Maria morreu ou não morreu, a tradição afirma comumente que sim, mas esta afirmação não é artigo de fé e constitui divergência desde os primeiros séculos da Igreja. De qualquer modo, se Deus envolveu de mistério o fim de sua santíssima Mãe, não cabe a nós nos perdermos em tais discussões.
Vamos aos fatos mais importantes, decorrentes da glorificação corporal de Maria:
1)Ela reencontra Seu Filho, após a separação de sua morte de cruz e entra em união definitiva com Ele.
2)Maria não necessita mas da fé para conhecer Jesus. Ela agora dispensa os obscuros e limitados símbolos terrestres e se encontra face a face com a divindade.
3)Sua Maternidade Espiritual recebe seu último acabamento. Explicando melhor:
a. Na anunciação:
Desde a Anunciação, Maria recebera uma graça materna para com os homens, da qual recebeu os fundamentos na Encarnação. Enquanto Cristo, ao se Encarnar-se tornava radicalmente cabeça dos homens, Maria se tornou sua mãe, fundamento de sua maternidade em relação à nós.
Na Cruz, Cristo tornou-se formalmente chefe da Igreja, e, Maria, formalmente Mãe desta, tanto que Cristo escolheu esta hora para proclamar sua missão materna(Jo 19,25-27).
b. Em Pentecostes:
o Regime da Graça entrou em vigor e Maria assumiu efetivamente sua maternidade, intercedendo pelos homens, que havia amado com amor universal, em Seu Filho, embora os conhecesse indistintamente, e não conhecesse claramente o poder e o efeito de sua intercessão.
c. Agora, no Céu de Corpo e Alma:
c.1. Na visão beatífica conhece cada um de nós de modo individual e pessoal.
c.2. Estando no céu com seu Corpo,(glorificado como o de Cristo),Maria mantém para conosco uma co-naturalidade física e uma capacidade afetiva das quais os outros santos estão atualmente privados. Assim, tem um conhecimento materno ardente e preciso, mas íntimo do que o dos demais bem-aventurados.
d. Atividade Materna
O conhecimento que Nossa Senhora tem de nós é perfeito porque procede da visão divina, mas ser mãe não é apenas conhecer, mas também agir. Em que consiste pois a ação de Maria em favor de seus filhos?
Consiste numa intercessão:
d.1. Viva porque procede do Amor. Ela não nos conhece como um sábio que registra friamente os fenômenos que vê, mas com desejos pela nossa Salvação, desejos estes que coincidem com os de Deus e com seu imenso amor por nós.
d.2. Eficaz, não porque Deus necessitasse dela, independentemente de Sua vontade, já que Deus realmente não necessita de ninguém. Mas porque Deus quis fazer da redenção uma obra aonde a Salvação seja, em cada uma de suas etapas, tanto no plano terrestre como no celeste, um trabalho simultâneamente humano e divino. Senão vejamos:
- Deus se fez homem para salvar os homens.
- Associou uma criatura, uma mulher, à sua missão salvífica (Maria).
- Colocou a Igreja nas mãos de homens e se compraz em lhes deixar fazer obras "maiores" que as suas.(Jo 14,12\ Jo 4,38)
- E faz cada homem colaborar livremente para sua própria salvação ou perdição.(Eclo 15,11-22)
Assim, o papel concedido às intercessões de Nossa Senhora e dos santos manifesta um designio divino.
Observação importante:
Também nesta ordem, Maria ultrapassa os santos porque:
- Jamais pecou, de modo que tem perfeita unidade com o amor divino.
- É cheia de Graça
- Está no céu em alma e corpo
Deus se compraz em escutar o duplo eco de suas intenções na liberdade humana de Jesus e de Maria.
Maria tem comunhão total com Deus, e portanto não podemos dissociar:
a. As intenções de Deus das de Maria
b. A ação de Deus da de Maria
O poder de Deus inspira e penetra sua oração, dando aos seus desejos o poder de atingir seu objetivo.
Desde a origem Maria precedeu a Igreja em todas as etapas de sua vida. Agora na Virgem assunta ao céu, a Igreja, em marcha para a glorificação, realiza já a perfeição do seu mistério.
A Assunção não pode ser considerada como um fato isolado, mas no contexto da obra redentora de Jesus e no contexto da missão que Jesus encomendou à Maria na cruz, em favor da Igreja.
Com relação a Jesus a Assunção de Maria não tem luz própria, mas o reflexo que Cristo ressuscitado faz incidir sobre Ela. É participação na glória de Cristo, devido a redenção.
Sua maternidade não é simplesmente biológica, mas participação consciente e aceita na obra de seu Filho. Jesus a ama com amor divino e por isso a mantém inseparável a Ele. Assim, por desígnio divino Maria está associada a vitória de Cristo sobre o pecado e consequentemente sobre a morte. Maria é vitoriosa sobre o pecado e a morte não por si mesma como Cristo, mas porque está unida a Cristo vitorioso. A virgindade de Maria também é motivo de sua Assunção por ter sido Ela vocacionada a doar sua carne unicamente a Deus.
A Assunção de Maria é sinal de que a graça não transforma somente o espirito, mas todo o ser humano. A graça da glorificação do corpo humano foi antecipada em Maria, enquanto nós haveremos de esperar e ressurreição final.
O final terreno de Maria também tem outra função:
- transformar a morte na mais completa renuncia e entrega de si mesmo nas mãos do Pai, tirando a idéia da morte apenas como pena pelo pecado.
Com relação a Igreja devemos estar conscientes que toda obra salvífica de Cristo e a participação de Maria na mesma tem como propósito a Igreja.
Maria recebeu no começo da Igreja e de maneira consumada o que os outros fiéis receberão no final. Em Maria aparece de manifesto que a entrega de Cristo ao Pai e a aceitação dessa entrega por parte do Pai resplandece como uma graça de Cristo à Igreja, da qual Maria é modelo.
2. MEDIAÇÃO INTERCESSORA DE MARIA
A mediação maternal de Maria supõe vários princípios teológicos, dos quais adiantamos dois por sua especial importância:
Primeiro: A continuidade da Igreja terrena com a celeste. Por esta verdade teológica cremos que toda a Igreja, tanto a que vai caminhando quanto a que já chegou ao seu término, está unida ao redor de Sua Cabeça Única que é Cristo, e num único propósito de Salvação. Por isto mesmo, entende-se que nossa vocação eclesial não termina com a morte, mas é uma e única para sempre. Assim, compreendemos que a vocação de Maria não terminou.
Segundo: Todos nós que fazemos parte da Igreja, caminhamos juntos para a Pátria definitiva, com uma mediação de apoio mútuo que é uma verdadeira mediação salvífica (cada um de acordo com a sua vocação e missão específica, à qual corresponde uma graça e à medida com que corresponde à esta graça). Esse mútuo apoio e mediação, que faz "uma alma que se eleva" elevar o mundo inteiro, em nada diminuem o Senhorio e a Mediação únicos de Cristo, mas a Ele estão subordinados. Poderíamos dizer que o Salvador exerce Sua mediação e senhorio por meio daqueles a quem livremente desejou associar Sua obra, em favor de seus irmãos.
Por esta razão é que, apesar de nos revelar que Jesus Cristo é o único mediador (1 Tim 2, 5) porque sozinho deu Sua vida em resgate de muitos, as Escrituras também chamam Moisés de "mediador da Lei"(Gál 3,19), e nos oferece no AT muitos exemplos de homens e mulheres chamados pelo Senhor para levar a cabo como seus mediadores, através de uma missão particular, a Salvação que vem apenas DELE. Por isso dizemos que não existe graça que seja puramente em benefício próprio: somos também beneficiados com as graças que recebemos de Jesus, mas os contemplados com ela são muitos, tantos, que às vezes nem podemos imaginar. Estas mediações humanas, longe de obscurecer a UNICIDADE DA FONTE DE SALVAÇÃO, nos fazem cair na realidade de quanto o Senhor levou a sério sua criatura, pois a associou livre e amorosamente à Sua obra.
A mediação intercessora do cristão, longe de negar a intervenção única de Deus, coloca-a em evidência: é ao Senhor que se dirige a súplica pelo irmão. E precisamente porque, ao contrário do que Caim argumentava (Gen 4,9), somos sim, co-responsáveis pela Salvação de nossos irmãos. Por isso, no mesmo texto onde o Espírito Santo nos revela por intermédio de S. Paulo a mediação única de Jesus, acrescenta o quanto é agradável a Deus e como está conforme o Seu plano a mediação intercessora do cristão pela libertação completa de seu irmão com ele redimido(1 Tm 2,1-4), mediação esta que o próprio Espírito de Deus coloca ao lado e subordina à de Cristo.
Pois bem, é nesta linha que se desenvolve a intercessão materna de Maria, que não empana o brilho da mediação única e insubstituível de cristo, porque tudo o que Maria é e tem, lhe veio e vem da superabundância dos méritos de Cristo, apoia-se em Sua mediação, e a Ele conduz.
Dentre todas as criaturas humanas, a mediação de Maria é especialíssima, pelo fato dela ser a Mãe de Deus feito homem. Neste sentido, Sua participação na obra Salvífica é muito especial e se destaca da dos demais fiéis, não tanto pela dignidade própria, mas pelo Amor e Serviço especiais. O fundamento da relação materna de Maria com Jesus não se limita à Ele, mas também aos Seus membros, a Igreja, nós. E, depois de Assunta ao céu, a Virgem vive constantemente de frente a Seu Filho, e toda a Sua exist6encia glorificada perante Deus constitui um ato de louvor, de gratidão e de intercessão. O que ela é, deve a Cristo, e o que ela faz, faz por Cristo, através de Cristo, em favor do resto do Cristo total, em favor de nós, os membros do corpo que ainda peregrinamos. Por isso a Igreja a toma como intercessora, e a contempla como a imagem da meta que esperamos alcançar.
Não há dúvida de que, desde os primeiros séculos da Igreja, Maria é invocada como intercessora: basta recordar a oração "Sob teu ampara..., do séc III ou IV, ou os mais antigos ícones(imagens), que costumam apresentar Maria com as mãos postas, em posição de oração, indicando sua missão materna de "advogada nossa". Por este motivo é que devemos conservar, com a tradição da Igreja, a devoção a Maria como nossa Mãe e intercessora Maternal. Neste sentido está a Sua Mediação.

consagração


Entre os imensos frutos de revigoração do fervor que a Efusão do Espírito Santo tem gerado entre nós, temos observado um que é especialíssimo por se referir à devoção a Nossa Senhora: o mesmo Espírito Santo que gerou Jesus no seio de Maria, tem inspirado cada vez mais os batizados a assumir a filiação a esta Mãe Santíssima, que nos foi entregue por seu Filho ao pé da cruz. Nós a assumimos como Mãe e temos renascido espiritualmente dela.

Um grande sinal desta entrega é o aumento significativo da prática tão antiga e nova da consagração total a Jesus Cristo pelas mãos de Maria, ensinada por São Luís Maria Grignion de Monfort. O que posso testemunhar acerca desta consagração, é que tem sido grande fonte de libertação interior e de conversão da minha vida a Jesus Cristo.

Parece algo contraditório, mas o que se comprova na prática é que este ato de consagração, através do qual clamamos a Maria que nos apresente a Jesus na qualidade de escravos, entregando à sua administração todos os possíveis méritos de nossos atos e orações, traz imensos frutos de libertação para nossa vida. Como pode isto acontecer?

A graça

Sabemos que a graça é uma ação misteriosa de Deus em nossa vida e, portanto, ultrapassa o raciocínio humano, de modo que seria inútil tentar explicar inteiramente aqui este ato de fé, que é mistério para ser aceito e vivido. Mas em respeito à nossa humanidade, Deus, cheio de misericórdia - através das Escrituras e do ensinamento da Igreja - se curva sobre nós para tentar nos "explicar" o inexplicável.

Enquanto a imensa graça deste ato de consagração tem arrebatado imediatamente a uns, que fazem-na sem nada perguntar, outros querem ardentemente fazê-lo, mas surgem no seu coração certos temores, especialmente no que se refere ao seu papel intercessor: "Se fizer este ato de consagração, não poderei mais interceder especificamente por aqueles que me pedem orações? Não poderei oferecer por eles atos de sacrifício? Estarei me tornando escravo de Nossa Senhora ou de seu Filho Jesus? Entregarei meus méritos a Nossa Senhora ou a Jesus?"

Para que não existam mais esses temores, penso que seria importante recordar uma Palavra da Carta de São Paulo aos Coríntios acerca da criatura humana que precisamos encarar e aceitar: "Que tens que não hajas recebido?" (1Cor 4,7b).

Na realidade, tudo o que possamos ser, ter ou fazer é puro dom de Deus para nós. Consagrar os frutos de nossos méritos a Jesus é entrar na verdade da nossa relação com Ele: Deus é nosso Pai e nada temos, somos ou podemos fazer sem que Ele nos conceda. Portanto, nossos pretensos méritos são como "moedinhas" que Ele mesmo coloca em nossos "bolsos" para comprarmos um presente para Ele.

Comunhão dos Santos

Outro importante instrumento de compreensão do ato de consagração a Jesus por Maria é a meditação no mistério da Comunhão dos Santos: uma vez que todos os batizados formam um só "corpo" espiritual, cuja "cabeça" é Cristo, o bem de Cristo é comunicado a nós, e todo bem que recebemos dele é comunicado entre nós como a seiva é comunicada a todos os ramos de uma árvore. Como então pretendermos dominar este processo "determinando" a Deus o bem que Ele deve fazer a esta ou àquela pessoa através de nós?

É claro que devolver a Deus este direito que já é dele não significa sermos impedidos de interceder por aqueles que nos pedem orações. Mas significa deixar que Deus tome inteiramente em suas mãos os resultados de nossos atos e orações, e o faça pelas mãos daquela que foi escolhida para que Jesus, fonte de toda graça, viesse habitar em nós e nos dar tudo o que somos, temos ou fazemos. Maria é a porta por onde recebemos Jesus e toda graça; é também a porta por onde devolvemos a Jesus o direito sobre tudo o que temos, somos e fazemos.

Consagrar-nos a Jesus pelas mãos de Maria não é um favor que fazemos a Jesus, nem um sacrifício, mas uma grande bênção, um imenso dom, uma profunda alegria, e a restauração da consciência de uma verdade fundamental da nossa vida: somos dele, somos portanto de sua e nossa Mãe, Maria!

Na vida

Gostaria também de partilhar aqui um outro aspecto do ato de consagração a Jesus pelas mãos de Maria que toca profundamente o meu coração: o aspecto vivencial. Como São Luís de Monfort mesmo diz no seu "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", a entrega total a Maria é uma perfeita renovação das promessas do nosso Batismo. Pelo Batismo, renunciamos a Satanás e a compactuar com suas obras, renunciamos ao pecado e a fazer prevalecer a nós mesmos. Na entrega total a Maria, renovamos esta renúncia e ainda damos expressamente a Nosso Senhor, pelas mãos dela, o valor que Deus quiser dar às nossas ações e orações. Jesus se deu inteiramente a nós e o quis fazê-lo pelas mãos de Nossa Senhora, e agora nos devolvemos inteiramente a Ele também do mesmo modo: pelas mãos de Nossa Senhora.

Maria é a porta do céu, a porta das graças que circulam no corpo da Igreja. No entanto, durante a vida, Maria permaneceu muito oculta. A sua humildade foi tão profunda, que não teve na terra atrativo mais poderoso nem mais contínuo que o do escondimento para que só Deus a conhecesse. São Luís Maria de Monfort diz que o próprio Filho quis escondê-la durante sua vida, e em certa ocasião chegou a tratá-la como uma estranha para favorecer sua humildade, embora no seu coração a amasse mais do que a todos os anjos e a todos os homens.

Portanto, a nossa entrega a Maria precisa se efetivar na nossa vida através de atos concretos de humildade e aceitação de toda humilhação. Depois de nos consagrar a Jesus por intermédio dela, torna-se um absurdo ainda querermos fazer prevalecer nossa pessoa, nossas idéias, nossa vontade em qualquer situação da nossa vida diária. Daí o perigo de nos tornarmos pessoas consagradas a Nossa Senhora, muitas vezes ostentando um belo anel no dedo, sem nos lembrar que escolhemos livremente estar no lugar onde ela esteve com seu Filho Jesus enquanto viveram nesta terra: eles escolheram o último lugar, o lugar de servos, renunciando a todo direito de ditar normas ou prevalecer sua vontade diante de Deus.

Se estamos dispostos a abraçar esta grande graça de estar no lugar escolhido por Jesus e Maria nesta terra, vale a pena nos consagrar a Nossa Senhora. Mas se ainda desejamos conservar algum direito para nós nesta vida, nos preparemos melhor para viver esta devoção, porque ela envolverá desde as pequenas às grandes situações que encontraremos.

Esta escolha do último lugar, decorrente da consagração a Jesus por intermédio de Maria, vai muito além de um lugar físico ou de uma função no serviço da Igreja, que aos olhos de alguns pode parecer significar grandeza ou pequenez. Trata-se do espírito de pequenez, que o Espírito da verdade nos ensina a viver, conforme Cristo mesmo esclareceu no seu diálogo com a mãe dos filhos de Zebedeu (cf. Mt 20,20-28). Aquela mãe, na sua ingenuidade, pediu que Jesus colocasse seus filhos um à direita e o outro à esquerda dele no Reino de Deus, e Ele, após lhes perguntar se estariam dispostos a beber da "taça" da entrega total de sua vida, declarou que somente ao Pai caberia concedê-lo. E aproveitou a ocasião para ensinar aos seus discípulos: "Como sabeis, os chefes das nações as mantêm sob seu poder, e os grandes, sob seus domínios. Não deve ser assim entre vós. Pelo contrário, se alguém quer ser grande entre vós, seja vosso servo, e se alguém quer ser o primeiro entre vós, seja o vosso escravo. Assim é que o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate pela multidão" (cf. Mt 20,25-28).

Através daquela por quem veio a nós o Servo dos servos e foi a primeira a servir a Deus sem reserva, com a entrega total de sua vida, podemos nos consagrar, segundo a devoção ensinada por São Luís de Montfort, sabendo estar renunciando a todo pretenso direito, não só na outra vida, mas desde já, em cada situação do nosso dia-a-dia.

Sabendo disto, como pode alguém que se consagrou a Jesus pelas mãos de Maria ainda exigir direitos, consolos, regalias, reparação de ofensas recebidas, considerações, atos de gratidão ou prevalência da sua opinião diante de alguém? Tudo isto, até somos capazes de sentir, porque somos humanos e tais desejos se levantam dentro de nós. Mas um consagrado a Jesus por Maria rejeita tais pensamentos e até os confessa se neles consentiu ou agiu.

Queridos consagrados a Jesus por Maria, submetamos a cada dia todos os nossos desejos aos de Jesus e Maria, de modo que se os nossos não forem conforme os deles, possamos deixar que sejam aniquilados, e com eles todo egoísmo que nos separa de Deus, para chegarmos à união completa com Ele. E que o Senhor conceda mais e mais aos corações dos batizados o desejo de consagrar-se assim para sempre, pelas mãos de nossa querida Mãe! 

batismo de crianças


A razão teológica pela qual a Igreja batiza crianças é que o Batismo não é como uma matrícula em um clube, mas é um renascer para a vida nova de filhos de Deus, que acontece mesmo que a criança não tome conhecimento do fato. Este renascer da criança a faz herdeira de Deus. A partir do Batismo a graça trabalha em seu coração (cf. 1Jo 3,9), como um princípio sobrenatural. Elas não podem professar a fé, mas são batizadas na fé da Igreja a pedido dos pais.
 
Santo Agostinho explicava bem isto: “As crianças são apresentadas para receber a graça espiritual, não tanto por aqueles que as levam nos braços (embora, também por eles, se são bons fiéis), mas sobretudo pela sociedade espiritual dos santos e dos fiéis… É a Mãe Igreja toda, que está presente nos seus santos, a agir, pois é ela inteira que os gera a todos e a cada um” (Epíst. 98,5).
 
Nenhum pai espera o filho chegar à idade adulta para lhe perguntar se ele quer ser educado, ir para a escola, tomar as vacinas, etc. Da mesma forma deve proceder com os valores espirituais. Se amanhã, esta criança vier a rejeitar o seu Batismo, na idade adulta, o mal lhe será menor, da mesma forma que se na idade adulta renegasse os estudos ou as vacinas que os pais lhe propiciaram na infância.
 
A Bíblia dá indícios de que a Igreja sempre batizou crianças. Na casa do centurião Cornélio (“com toda a sua casa”; At 10,1s.24.44.47s); a negociante Lídia de Filipos (At 16,14s); o carcereiro de Filipos (16,31-33), Crispo de Corinto (At 18,8); a família de Estéfanas (1Cor 1,16). Orígenes de Alexandria († 250) e S. Agostinho († 430), atestam que “o costume de batizar crianças é tradição recebida dos Apóstolos”. Santo Irineu de Lião († 202) considera óbvia a presença de “crianças e pequeninos” entre os batizados (Contra as heresias II 24,4). Um Sínodo da África, sob São Cipriano de Cartago († 258) aprovou que se batizasse crianças “já a partir do segundo ou terceiro dia após o nascimento” (Epíst. 64).
O Concilio regional de Cartago, em 418, afirmou: “Também os mais pequeninos que não tenham ainda podido cometer pessoalmente um pecado, são verdadeiramente batizados para a remissão dos pecados, a fim de que, mediante a regeneração, seja purificado aquilo que eles têm de nascença” (Cânon 2, DS 223).
 
No Credo do Povo de Deus, o Papa Paulo VI afirmou: “O Batismo deve ser ministrado também às criancinhas que não tenham podido ainda tornar-se culpadas de qualquer pecado pessoal, a fim de que elas, tendo nascido privadas da graça sobrenatural,renasçam pela água e pelo Espírito Santo para a vida divina em Cristo Jesus” (nº 18).

sábado, 13 de outubro de 2012

Maria é alvo freqüente de ataques por nossos irmãos separados. Muitos, até, com ódio de nossa Mãe. Que filho suporta ouvir absurdos de sua mãe? Jesus é filho de Maria. Como fica seu coração com tais atitudes?
A exegese atribui a MULHER do Gênesis também a Maria: "Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a dela; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3,15). Maria é a mulher que pisa na cabeça da serpente. Pela desobediência, Eva nos trouxe a morte, mas Maria, com sua obediência, nos trouxe a Salvação: Jesus.
Maria, com seu SIM e humildade, ESMAGA a cabeça da serpente, derrota Satanás.  "Maria tornou-se a nova Eva, Mãe dos viventes" (CIC 511). Maria foi concebida sem pecado. Seu corpo não poderia ser manchado com o pecado original, pois iria receber o Salvador, o Verbo que se fez Carne em seu ventre! Seu corpo foi templo do Filho de Deus, Sacrário vivo.
Maria foi escolhida por Deus desde a eternidade! Quem somos nós para menosprezar esta escolha? Desde o Antigo Testamento Maria é anunciada!  "Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel" (Isaías 7, 14).
Maria é Mãe de Deus, pois Jesus é Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus! (CIC 484-507). Maria teve em seu ventre O Homem e Deus! Como separar o corpo do espírito? Maria não deu à luz um monte de ossos, mas um corpo com carne e espírito! Deu à Luz o Filho de Deus: Jesus.
O anjo Gabriel a chama Bem Aventurada, cheia de Graça, diz que Deus está com ela! Deus falou assim a algum profeta ou iluminado? Maria sempre humilde, obediente, modelo de fé. Entregou-se à vontade de Deus! "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 28). O Espírito de Deus estava com ela. O anjo disse a Maria que Isabel estava no 6º mês de gravidez e Maria viajou cerca de 120 km para servi-la. Maria foi serva: serva de Deus, de Isabel, de Jesus, dos discípulos de Jesus. Lembrem-se, Isabel não sabia que Maria estava grávida. Ninguém sabia, nem José! Quando Maria a saúda, Isabel grita: "Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?" (Lc 1, 43-44). Maria, cheia do Espírito Santo, saúda-a e Isabel fica cheia do Espírito Santo. Maria foi canal da Graça e Espírito de Deus! Maria repleta do Espírito Santo, diz: "desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas" (Lc 1, 46-56). Como desprezar estas palavras? Hoje muitos as esqueceram!
Muitos esquecem que ela carregou e adorou Deus em seu ventre. Qual é a mãe que desde o Ventre não cuida de seu filho? Quando bebê, Maria fez Jesus dormir, esperou que Ele dormisse e, nesta espera, adorava Deus ao lado de sua cama. Maria foi a maior adoradora de Jesus que existiu! Ela O adorou no ventre, na infância, adolescência, quando adulto, no calvário, e quando ressuscitado!
Maria conviveu com Jesus por 33 anos. Os apóstolos e seus discípulos só estiveram com Ele por cerca de três anos! Como ignorar estes 33 anos? Tudo que Jesus sentiu Maria sentiu! Qual a mãe que não sente as dores e as alegrias do filho? "E uma espada transpassará a tua alma" (Lc 2, 35). Alguém pode imaginar a dor de Maria ao ver seu Filho inocente e justo sendo chicoteado, maltratado, morto na cruz? Doeu, mas ela não murmurou, apenas confiou na vontade do Pai, entregando seu sofrimento a Ele.
Em Caná, comovida com a situação dos noivos, intercedeu por eles. Jesus disse que sua hora ainda não chegara, mas Maria vê a necessidade, e diz aos serviçais:  "Fazei tudo o que ele vos disser" (Jo 2, 3?5). Jesus atende o pedido de sua Mãe e antecipa Sua hora. Inaugura-se a intercessão de Nossa Senhora, da Mulher, da cheia de Graça diante de Deus.
Maria é exemplo de silêncio e humildade para todos nós. Ela "Guardava e meditava tudo em seu coração" (Lc 2, 51). Ela, sempre com Jesus, acompanhou tudo de perto, em silêncio. Quando Jesus a vê aos pés da cruz, Ele doa sua mãe à humanidade, entrega Maria como Mãe dos viventes. "Mulher, eis aí teu filho. Filho: "Eis aí tua mãe". "E desta hora em diante o discípulo a levou para a sua casa" (Jo 19, 26-27). Devemos, como João, levar Maria para casa, para cuidar de nós e levar-nos em direção ao Seu Filho.
Maria é a mulher do Gênesis ao Apocalipse! "Uma Mulher revestida de sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro" (Ap 12, 1). Quem usa coroa, senão uma rainha? Maria é Rainha do Céu e da Terra!
Satanás tem ódio de Maria, de sua obediência, de sua humildade! "E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra contra os seus descendentes, os que guardam os mandamentos de Deus, e mantêm o testemunho de Jesus" (Ap 12,17). Ele sabe que não tem forças contra Deus ou Maria, por isso nos ataca, nós, os descendentes d'Ela, que seguimos os mandamentos de Deus. Maria passa à nossa frente, nos defendendo, pois  "Vosso adversário, o Diabo, anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa devorar" (I Pe 5,8). Somos vencedores com Maria pela Ressurreição de Jesus, pois somos a Igreja de Cristo e "as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,18).
Levemos Maria para casa, pois o Leão tem medo de Maria! Maria é guerreira! Na Guerra espiritual o inimigo sabe que Maria é vitoriosa com Jesus.
Defendamos nossa Mãe. Quem ao ouvir falar de sua mãe não a defende? Defendemos Maria de duas maneiras: com uma arma muito forte, a oração do Rosário; e fazendo que mais filhos tornem-se devotos de Nossa Senhora. Rezemos mais o terço e consagremos nossas vidas a Nossa Senhora!

sexta-feira, 23 de março de 2012

CRUZ DE MARIA


A treze de maio, na cova da Iria… Mês de maio, mês de Maria, a “Mulher bendita”.
“Bendita sois vós entre as mulheres”: não é assim que dizemos ao rezar a Ave-Maria? Gabriel saudou Maria com estas palavras: “Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo.” (Lucas 1,28). Quem pode ser mais bendita do que essa mulher, se o próprio Deus a saúda assim?
Também Isabel, prima de Maria, chamou-a de “bendita”. Logo após a anunciação do anjo, Maria foi às pressas às montanhas de Judá para ajudar sua prima Isabel que estava para dar à luz um menino – João Batista – que seria o precursor de Jesus. Ao ver Maria, Isabel, iluminada pelo Espírito Santo, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!… Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido.” (Lucas 1,42.45).
Certo dia, Jesus estava cercado de pessoas e falava ao povo que pendia de seus lábios. E eis que uma mulher, encantada com a sabedoria de Jesus, disse: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram.” (Lucas 11,27). Ela queria dizer: “Jesus, tua Mãe é bendita, é abençoada por Deus”. Como respondeu Jesus? “Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lucas 11,28).
Terá Jesus depreciado sua Mãe? Não, pelo contrário. Jesus fez de Maria o maior elogio que podia fazer, porque não existiu ninguém no mundo tão atento à Palavra de Deus e que tão bem cumpriu a vontade do Pai como a Mãe de Jesus. Assim, Maria é duplamente bendita: por ser a Mãe de Jesus e por ser a mulher atenta à Palavra e sua servidora.
Maria é, na verdade, uma mulher bendita, a mais bendita. Qual mulher, como ela, foi preservada do pecado original em previsão dos merecimentos da paixão e morte de seu Filho na cruz? Qual mulher, como ela, foi cheia de Graça, acolheu em si o Espírito Santo, esteve mais próxima de Deus e de Jesus, foi mais atenta à Palavra de Deus, mais disponível ao serviço de seus irmãos e irmãs? Qual mulher, como ela, foi mais cheia de fé, esperança e caridade, sofreu ao pé da cruz de seu Filho por amor a todos nós, foi assunta em corpo e alma aos céus, está, no céu, mais próxima de Deus e pode interceder melhor por nós, seus filhos e filhas?
Não há mulher como Maria. Ela é realmente a Mulher bendita! Não esqueça, porém, que a bem-aventurança de Maria está na sua grande fé. Fé que a levou até o topo do Calvário, padecendo, em seu coração, a mesma paixão do seu Filho na cruz. De fato, a Senhora da Piedade é representada ao pé da cruz, com o Filho Jesus morto nos braços. A cruz fez parte da vida de Jesus e de Maria.
A sombra da cruz projetou-se sobre Maria e Jesus desde o momento em que ele foi concebido. Apenas se tornou Mãe, Maria sofreu por não saber como fazer compreender a José que estava grávida por obra do Espírito Santo e não de um homem. Prestes a dar à luz, enfrentou dura viagem até Belém para fazer o recenseamento determinado pelo imperador romano. Em Belém não encontrou acolhida na casa de ninguém, viu-se obrigada a refugiar-se numa gruta e ali, entre animais, dar à luz seu Filho e dever recliná-lo numa manjedoura.
Quando, com José, Maria se apresentou no Templo de Jerusalém para a purificação, Simeão anunciou um futuro sombrio para ela e seu Filho e acrescentou: “Uma espada traspassará tua alma!” (Lc 2,35). Em seguida, foi forçada a fugir para o Egito a fim de escapar de Herodes que queria matar-lhe o Filho. Viveu no exílio, em terra estranha, entre gente estranha, falando língua estranha. Mais tarde sofreu a dor de perder seu Filho no templo.
Um dia, Maria chorou ao ver Jesus deixar a casa paterna – e a ela, sua mãe – para dedicar-se ao anúncio do Evangelho. Durante o ministério de Jesus, Maria viu seu Filho incompreendido, perseguido, rejeitado, caluniado, por fim traído, preso, condenado iniquamente, coroado de espinhos, esbofeteado, cuspido, ridicularizado, carregado de uma cruz, nela pregado e morto. Até que, à sombra da cruz, pessoas amigas o puseram de novo em seus braços de Maria, como quando ele era criança.
A cruz de Maria, quantas cruzes! Para nós também, que ainda estamos a caminho do Pai, é impossível viver sem cruz. Não é preciso buscá-la, ela aparece por si, faz parte da vida. Lembre-se das palavras de São Paulo: “Completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo.” (Colossenses 1,24). Enquanto existir uma só pessoa no mundo, a cruz estarAá sempre a seu lado, e Cristo continuará crucificado nos que sofrem, que vão completando o que falta a seu sofrimento.
Na cruz esteve a salvação de Maria e está também a nossa salvação.

Dom Hilário Moser, SDB
Bispo emérito da Diocese de Tubarão (SC). Doutor em Teologia Dogmática pela Pontificia

sexta-feira, 2 de março de 2012

IMACULADA CONCEIÇÃO


Uma dos dogmas da Igreja mais mal compreendidos hoje em dia é o da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria. Um dogma é uma verdade de fé que deve ser crida por todo cristão (como a Triunidade de Deus, a inerrância da Escritura, etc.). Assim, todo cristão deve crer na Imaculada Conceição.
Mas o que significa “Imaculada Conceição”? Ao contrário do que muitos pensam, não é o fato de Jesus ter nascido sem que Nossa Senhora perdesse a virgindade; isso é a Virgindade Perpétua de Nossa Senhora, não sua Imaculada Conceição. A Imaculada Conceição é o fato de nossa Senhora ter sido concebida sem Pecado Original, não tendo jamais pecado nem tido vontade de pecar.
O Pecado Original é aquilo que herdamos de nossos pais, e eles de seus pais, etc., até Adão. Desde que Adão e Eva escolheram dizer “não” a Deus, pecando por soberba ao quererem ser deuses no lugar de Deus, seus descendentes carregam esta “doença genética”, transmitida de pai para filho. Os efeitos do Pecado Original são: na alma a tendência a fazer o mal e a inimizade para com Deus; no corpo a doença, velhice, e finalmente a morte. Nossa Senhora foi salva no instante mesmo de sua concepção, no instante em que a alma criada por Deus era infusa no embrião gerado naquele instante de maneira totalmente normal por S. Joaquim e Sant’Ana, os pais da Santíssima Virgem. Ela foi preservada do Pecado Original, sendo salva não da maneira comum (pelo Batismo), mas de maneira tal que a preservou de cometer pecados ou sequer desejar cometê-los, ficar jamais doente, etc.
Podemos comparar esta diferença a uma outra situação: se uma pessoa cai em um poço e alguém vai e a tira de lá, esta pessoa foi “salva” pela que a tirou. Se, porém, esta pessoa está caindo no poço, está à beira do poço pronta para cair e alguém a segura com força e a puxa para fora, impedindo que caia, podemos também dizer que ela foi “salva” por quem a puxou. Nossa Senhora foi salva como quem é “salvo” de cair no poço, ao invés de ser salva como quem já caiu dentro dele, sujou-se todo e se machucou (o que é o nosso caso).
Isto era necessário, por uma razão muito simples: Deus a preparou, a “planejou”, por assim dizer, desde a queda de Adão para carregar a Deus em seu ventre (Gn 3,15). Seu Filho não era um menino qualquer que depois “virou Deus”; Ele era, Ele é Deus desde sempre. A partir de Sua concepção na Virgem Maria pelo Espírito Santo (Lc 1,31), Ele tomou a nossa natureza humana, sem perder a Sua natureza divina, e a segunda Pessoa da Santíssima Trindade fez-se homem; “O Verbo se fez Carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14).
Como já vimos, o Pecado Original é transmitido de pai para filho (ou de mãe para filho…). Jesus, sendo Deus, não poderia jamais ser ao mesmo tempo Seu próprio inimigo, ser ao mesmo tempo alguém que, como nos explica São Paulo, é escravo do demônio (Hb 2,14-15) , por tender ao pecado em virtude das conseqüências do Pecado Original. “Ora”, poderia dizer alguém que nega a Imaculada Conceição, “mas Jesus poderia transformar o Seu próprio corpo e Sua própria alma para arrancar destes o Pecado Original, ou simplesmente impedir que ele fosse transmitido”.
Isso, porém, não faria sentido: Em Ex 25,10-22, nós vemos o cuidado de Deus nas instruções para a preparação da Arca da Aliança, destinada a portar as Tábuas onde Deus escreveu a Lei dada a Moisés (Dt 10,1-2). Para portar a Palavra de Deus, Ele manda que os homens façam uma arca de maneira muitíssimo cuidadosa e detalhada, de ouro e madeira de acácia, materiais nobres e puros. Esta Arca não pode sequer ser tocada por mãos impuras! Em 2Sm 6,6-7, vemos como Oza, filho de Abinadab, percebe que os bois que carregavam o carro da Arca tropeçaram e a apara com as mãos; ele cai morto, fulminado no ato!
O que Deus não faria então para preparar aquela que portaria não uma criatura de Deus (Sua Palavra), mas o próprio Senhor em seu ventre, aquela cujo sangue alimentaria o Verbo feito Carne, cujo leite nutriria a Deus feito homem? Se tocar a Arca que continha a Palavra bastava para matar uma pessoa bem-intencionada, que queria apenas impedir que ela caísse ao chão e se sujasse, será que Cristo poderia ser concebido e Se desenvolver em um útero impuro e escravizado ao demônio pelo Pecado Original?!
Vemos como A Santíssima Virgem foi preservada do Pecado Original também em Lc 1,28, quando o Anjo Gabriel chega a Nossa Senhora e a saúda com as palavras “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres“. Como alguém que fosse um escravo do demônio, alguém que peca e tornará a pecar, poderia ser “cheia de graça”? Além disso, a reação de Nossa Senhora também é muito diferente da reação, que pode ser vista no mesmo capítulo, de Zacarias à chegada de um anjo: enquanto Nossa Senhora não se assusta nem um pouquinho, e medita sobre as palavras que o anjo disse, Zacarias fica perturbado e com medo antes mesmo do anjo falar. O que Zacarias faz não é estranho; é essa a reação de todos os que, carregando em seu corpo e em sua alma o Pecado Original, vêem-se face-a-face com um anjo; podemos ver, por exemplo, que esta é a mesmíssima reação que têm os pastores a quem o anjo anuncia o nascimento de Cristo (Lc 2,9).
Alguns, para negar este dogma, dizem que Nossa Senhora não teria cumprido (Lc 2,22) os rituais de purificação, que incluem uma oferenda pelo pecado (Lv 12,2-8), caso fosse mesmo preservada do Pecado original por Deus. Ora, o Evangelista nos diz que “foram concluídos os dias da purificação de Maria segundo a Lei de Moisés”(Lc 2,22), não que ela tivesse realmente ficado impura ou pecado (o pecado que precisava de um sacrifício para purificação é a promessa inconsciente que toda mulher faz em meio às dores do parto: nunca mais ter outro filho. Ora, a dor do parto é, como vemos em Gn 3,16, outra conseqüência do Pecado Original). Nossa Senhora fez o sacrifício para submeter-se à Lei, como Cristo o fez (Gl 4,4), apesar de não precisar (Cf. Mt 17,23-26): para não ser causa de escândalo (Mt 17,26) e dar exemplo de obediência, para que saibamos que devemos obedecer à Lei de Cristo como Ele obedeceu à de Moisés.
Outros dizem que a frase de São Paulo em Rm 3,23 (“todos pecaram”) seria também aplicável à Santíssima Virgem, que teria assim pecado. Ora, se assim fosse, Nosso Senhor Jesus Cristo também teria pecado… Além disso o mesmo Apóstolo, na mesma Epístola, refere-se aos que não pecaram, em Rm 5,14. Muitos outros exemplo podemos encontrar de uso desta expressão generalizante (“todos pecaram”) sem que seja realmente todos, sem exceção: em Mt 4,24, diz-se que “trouxeram-Lhe todos os que tinham algum mal”, mas dificilmente todos os doentes da Síria teriam ido à Galiléia, passando por montanhas e desertos; em Jo 12,19, diz-se que “todo o mundo vai após” Jesus; será que realmente todas as pessoas, sem exceção, O seguem? Quem dera! Do mesmo modo, em Mt 3,5-6, vemos que a gente de “toda a Judéia e toda a terra dos arredores do Jordão” ia ser batizada por São João Batista; será que todos, inclusive Herodes, Rei da Judéia, que depois o mandou matar, todos os fariseus e saduceus, todos, sem exceção, foram ser batizados por São João? Será que “todo o povo” (Mt 27,25), sem exceção, assumiu a responsabilidade da morte de Cristo? Será que “todo o povo” que morava perto do mar (Mc 2,13) ou que vivia na Cesaréia de Filipe (Mc 9,14) foi ouvir a Cristo, sem ficar nem unzinho em casa?
Dificilmente. Assim, além da exceção já evidente de Cristo na expressão generalizante usada por São Paulo em Rm 3,23 (“todos pecaram”), vemos que o uso desta palavra para significar “a maioria”, ou “quase todos”, não é restrito de modo algum a esta frase. O que podemos dizer então, senão o que disse o Anjo a Nossa Senhora?
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres…
Autor: Carlos Ramalhete

ASSUNÇÃO DE MARIA


O Dogma da Assunção tem como referência a Mãe de Deus, que logo após sua vida terrena foi levada em corpo e alma à Glória Celestial.
Este Dogma foi proclamado pelo Para Pio XII, em 1º de novembro de 1950, na Constituição Munificentisimus Deus:“Depois de elevar a Deus muitas reiteradas preces e invocar a Luz do Espírito da Verdade para a Glória de Deus onipotente, que outorga a Virgem Maria sua benevolência, para honra de seu filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte, para aumentar a glória da mesma Mãe Augusta e para gozo e alegria de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta de corpo e alma à Glória dos Céus”.
Entretanto, por que é importante para que nós católicos recordemos e aprofundemos o Dogma da Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Céu? O Novo Catecismo da Igreja Católica responde a esta pergunta:
“A Assunção da Santíssima Virgem, constitui uma participação única na ressurreição de seu filho e uma antecipação da ressurreição dos demais cristãos (CIC 966)”.
A importância da Assunção para nós, homens e mulheres do começo do Terceiro Milênio da Era Cristã, tem como efeito a relação que existe entre a Ressurreição de Cristo e a nossa. A presença de Maria, mulher da nossa raça, ser humano como nós, se encontra entre a ressurreição de Cristo e a nossa, isto é: uma antecipação de nossa própria ressurreição.
O Novo Catecismo da Igreja Católica (CIC 966) nos explica, citando a Lúmen Gentium 59, que conseqüentemente cita a Bula da Proclamação do Dogma: “Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada de toda mancha do pecado original, terminado o curso de sua vida na terra, foi levada à Glória dos Céus, e elevada ao Trono do Senhor como Rainha do Universo, para ser conformada plenamente a seu filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado da morte”.
Papa João Paulo II, em uma de suas catequeses sobre a Assunção, explica o mesmo nos seguintes termos:
“O Dogma da Assunção afirma que o corpo de Maria foi glorificado depois de sua morte. Com efeito, enquanto para os demais homens a ressurreição dos corpos será no fim do mundo, para Maria a glorificação de seu corpo se antecipou por privilégio único (JP II, 2-julho-1997).
“Contemplando o mistério da Assunção da Virgem, é possível compreender o plano da Providência Divina com respeito à humanidade: depois de Cristo encarnado, Maria é a primeira criatura humana que realiza o ideal escatológico, antecipando a plenitude da felicidade, prometida aos escolhidos mediante da ressurreição dos corpos”. (JP II, Audiência Geral de 9 de julho de 1997)
Continua o Papa: “Maria Santíssima nos mostra o destino final daqueles que ‘escutam a palavra de Deus e a cumprem’ (Lc. 11,28). Nos estimula a elevar nosso olhar às alturas, onde se encontra Cristo, sentado à direita do Pai, e onde está também a humilde serva de Nazaré, em sua glória celestial” (JP II, 15-agosto-1997).
O mistério da Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Céu convida-nos a fazer uma pausa na agitada vida que levamos para refletir sobre o sentido da nossa vida aqui na terra, sobre nosso último fim: a Vida Eterna, junto com a Santíssima Trindade, a Santíssima Virgem Maria e os anjos e santos do Céu. Ao saber que Maria está no Céu, gloriosa em corpo e alma, como nos foi prometido àqueles que fazem a vontade de Deus, renova-nos a esperança em nossa imortalidade futura e a felicidade perfeita para sempre.